Já ouvi dizer de tudo por aqui. Na ilha de Santa Catarina tem história de bruxa, de índio, de benzedeira, de pescador, mas, história de moleiro? Essa foi nova para mim!
- Moleiro? O que é isso? Que história é esta, mamãe? – perguntei curiosa ao ver minha mãe tirar de uma sacola um pequeno boneco de pano que segurava um saco de farinha de mandioca na mão.
Ela me disse que os moleiros foram trabalhadores tradicionais e muito importantes para a história de Florianópolis e que, por isso, a sua amiga bonequeira havia criado este personagem, para ajudar a contar um pouco da história dos engenhos de farinha de Santa Catarina para as crianças.
Eu achei muito legal e quis saber mais. Então, comecei a fazer um montão de perguntas:
- Mãe! Mas, o que é um moleiro? Que trabalho tão importante é este que ele fazia? E o que é um engenho de farinha?
- Calma Aninha, eu vou te contar tudinho, uma coisa de cada vez ,certo?
Então, eu fiquei sabendo que na ilha existiam muitos engenhos artesanais de farinha: lugares simples, com fornos e outros equipamentos que ajudavam as pessoas do campo a transformar a mandioca em farinha. E eu nem imaginava que aqui na ilha existem alguns engenhos que ainda funcionam de verdade! Tem engenho no Ribeirão da Ilha, em Santo Antonio de Lisboa, já teve no Rio Tavares, na Tapera e também fora da ilha.
Mamãe contou que alguns engenhos daqui são muito antigos, e que foram restaurados e transformados em centros culturais que recebem visitantes que querem conhecer um pouco mais desta tradição cultural Açoriana.
- Mamãe, podemos visitar um engenho algum dia? – perguntei animada, sem perder tempo.
- Claro, filha! Tenho certeza que você vai adorar sentir aquele cheirinho de fumaça misturado com o da farinha torrada que sai de dentro do grande forno que tem por lá.
Minha mãe começou a contar, e eu comecei a imaginar. As palavrinhas saiam da boca dela, enquanto as imagens saiam da minha cabeça: farinha, forno, cevador, massa, peneira. Algumas palavras eu nem conhecia, mas tentava imaginar mesmo assim.
Mamãe disse que os engenhos foram construídos por famílias, e que todos trabalhavam neles: primeiro os vovôs, depois os papais, depois os netos. Antes, eles funcionavam com a ajuda dos bois que ficavam andando em circulo numa "canga" para fazer uma roda girar e o forno funcionar. Depois, os engenhos começaram a ter motores que funcionam com energia elétrica.
Fonte: https://ndmais.com.br/noticias/engenho-dos-andrade-resgata-a-tradicao-da-farinha-feita-na-ilha/
- Mas pra fazer a farinha, antes tem que ter a plantinha da mandioca não é mamãe? – perguntei.
- Isso mesmo, as pessoas que trabalhavam nos engenhos plantavam as mudinhas de mandioca e quando elas estavam crescidas, colhiam e tiravam as cascas para secar, moer, peneirar e transformar em farinha.
Fonte: https://www.cpt.com.br/cursos-agricultura/artigos/como-plantar-mandioca-conheca-o-passo-a-passo
E foi neste instante que eu comecei a entender o que é que o moleiro faz!
- Ah!! Eu acho que eu sei o que um moleiro faz, mãe! Ele cuida da mandioca e faz farinha com ela, não é mesmo? - disse empolgada.
- É isso mesmo Aninha! E eu vou te explicar como é que ele consegue fazer isso.
Ela me explicou que o moleiro, ou moendeiro, era o nome dado aos donos de moinhos e, também, às pessoas que antigamente trabalhavam moendo cereais para fazer farinha, e que este é um dos mais antigos trabalhos da humanidade e existe até hoje.
Mamãe contou que o moendeiro trabalhava muito! E que, antigamente, eram eles que construíam os próprios engenhos. Por isso, precisavam conhecer bem o funcionamento dos engenhos, das máquinas, e ainda cuidar das plantações para poder fazer a farinha de mandioca.
Descobri que alguns equipamentos ajudavam o moendeiro a transformar a mandioca em farinha. Vou te contar um pouquinho sobre eles: tinha o saco de aniagem onde a mandioca era colocada dentro para ser prensada; a prensa tinha furos e ajudava a espremer a mandioca, tirando a água de dentro dela para ficar bem sequinha, como um tipiti que os índios usam.
Também tinha o cevador, onde as mandiocas descascadas e lavadas ficavam. Ele as transformava em uma massa que, depois de sequinha, ia para um forno que funcionava com lenha.
E, por último, a farinha sequinha passava pela peneira para retirar as carueiras ou caroços e ficar bem fininha e pronta para a gente comer.
Eu achei muito engraçado quando mamãe me disse que a farinha descansa, eu não sabia que farinha precisava dormir! Hehehe. Ela explicou que depois de sair do forno, a farinha da mandioca precisa ficar paradinha por 2 dias antes da gente poder se alimentar dela. Vocês acreditam nisso? E disse ainda que o moleiro conhecia tão bem do seu trabalho que conseguia saber quando a farinha da mandioca está prontinha só pelo cheirinho que saia do forno.
Ufa! Fazer farinha de mandioca deste jeito dava trabalho mesmo! E eu que achava que era só colocar a mandioca branquinha dentro de um saquinho e vender no mercado. Mas o que eu mais gostei de saber é que os engenhos não eram lugares só para fazer farinha não, as pessoas também se encontravam lá para conversar, aprender e até para fazer festas! Como a festa do Divino Espirito Santo que eu já contei para vocês em um outro post.
Quem bom que ainda existem alguns engenhos de farinha artesanais aqui na ilha, assim, podemos comer a farinha da mandioca fresquinha. Mandioca é tudo de bom! Eu adoro! Gosto dela cozida e fritinha, adoro os bolos e rosquinhas feitas com ela. Quantas receitas gostosas minha mãe sabe fazer usando a mandioca! Aiaiaiaia, esta história me deu uma fome...
- Mamãe, mamãe! Você faz rosquinha bijajica pra mim? - pedi animada
- Claro Aninha, vamos fazer juntas? – mamãe, respondeu sorrindo.
- Sim!!! Eu posso colocar a farinha da mandioca? – disse feliz.
- Com certeza, meu amor! – mamãe, respondeu.
E lá fomos nós para a cozinha... e eu agradeci ao moleiro do Ribeirão da Ilha, onde a mamãe comprou a farinha de mandioca artesanal e fresquinha que a gente usou para fazer nossas bijajicas. Olha a foto delas aqui!
Um beijo carinhoso e até a próxima história!
Aninha.
Aqui, deixamos algumas dicas de passeios para vocês. Engenhos que você pode visitar e conhecer o processo de produção artesanal de farinha na Ilha da Magia: Casarão e Engenho do Andrade em Santo Antonio de Lisboa, Engenho de Farinha da Costa da Lagoa, e Engenho do Galo em Ponta das Canas.
E se você quiser saber mais a respeito de outras histórias aqui da ilha, visite um pouco mais do meu blog.
Também quero te apresentar o mais novo membro da família “bonecos colecionáveis – personagens da ilha”: o moleiro! Disponível para você adquirir aqui na loja do site.
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