Oi pessoal!
Dia desses eu estava brincando na sala de estar de casa, quando algo me chamou a atenção: a árvore de pássaros de minha mãe. Eu adoro aquela árvore! Ela tem vários passarinhos coloridos que você pode mudar de lugar. E ela é especial por ser uma lembrança que mamãe trouxe de uma de suas viagens pelo Brasil. Olha ela aí:
Então, me deu vontade de te contar a história de uma palmeira super legal: o miriti. Esta planta é mesmo fantástica, pois dela podem nascer muitas possibilidades, inclusive o "brincar". É isso mesmo minha gente! Miriti também se transforma em brinquedo!
Esta história é das boas, e faz parte da coleção das experiências incríveis que couberam na "mochila" de viagem de minha mãe. Ela compartilhou comigo e, agora, também partilho com você, com a ajuda dos registros que fiz em meu diário. Então, vamos lá!?
Tudo começa na floresta Amazônica, lugar onde nasce essa palmeira aquática encontrada nas margens de rios e igarapés. Aliás, eu já te contei o que é um "igarapé"? Vou explicar: as imagens a seguir mostram dois exemplos dele: à esquerda temos um igarapé do estado do Amazonas e à direita, um do Pará.
Fonte: https://escola.britannica.com.br/artigo/igarap%C3%A9/483295
Igarapé é uma palavra indígena que em tupi significa "caminho de canoa". E é exatamente isso que ele representa: um riacho que liga duas ilhas ou, então, que faz a ligação entre uma ilha e um pedaço de terra firme. Geralmente é um caminho de água bem estreitinho e raso e, por isso, somente pequenos barcos conseguem navegar nele. E são nestes lugares que a palmeira de miriti nasce.
O miriti, também conhecido na Amazônica como buriti, é uma palmeira alta que pode atingir até 30 metros de altura! Ela tem folhas largas que parecem leques abertos e que podem chegar a medir 5 metros de comprimento. Imagine só, que folha gigante!
As suas flores são amarelas e produzem um montão de frutinhas a cada dois anos. Você não vai acreditar no que vou te dizer: um único buriti pode produzir 5 a 7 cachos que carregam uma quantidade aproximada de 500 frutinhas cada! É fruta que não acaba mais!! Olha que coisa linda gente!
Minha mãe me contou que no interior do Pará há uma cidade chamada Abaetetuba. Ela fica na região do Baixo Tocantins e é composta por 72 ilhas habitadas por comunidades ribeirinhas e quilombolas. Por lá há uma grande quantidade de palmeiras de miriti, e isto faz com que as pessoas que moram ali aproveitem tudo o que esta planta pode dar.
Enquanto mamãe me falava a respeito, senti vontade de conhecer. Fechei meus olhos e fiquei imaginando eu e ela dentro de uma canoa atravessando o igarapé e chegando na comunidade de Abaetetuba. E, depois, nós duas ficando frente a frente com uma destas palmeiras gigantes para colher aquele montão de frutinhas... falando nisso, qual será o gosto que elas tem?
Mas uma coisa me chamou a atenção: se as pessoas que moram perto dos rios aproveitam tudo o que o miriti pode dar, então quer dizer que eles derrubam o miritizeiro? Foi então que mamãe explicou que esta palmeira também é especial por conta disso, pois ela oferece muito sem a necessidade de ser derrubada.
Ufa! Fiquei aliviada. Imagine só como a Caipora e o Curupira ficariam se soubesse que mais arvores estão sendo derrubadas a cada dia? Nesta hora, minha mãe aproveitou para me mostrar duas imagens muito legais, para que eu pudesse entender como as comunidades ribeirinhas aproveitam o que o miriti pode dar.
Ao ver estas imagens novamente, lembrei de cada palavra que ela disse:
"- Veja Aninha, do seu longo tronco é extraído alimento do tipo palmito, suas grandes folhas servem como telhado ou cobertura para casas e, também, para a confecção de peças de artesanato. A poupa de seu fruto é transformada em doce e, também, no preparo do vinho de miriti que é usado para preparar sorvetes, refrescos e picolés. Da semente do miritizeiro é extraído um óleo que pode ser usado para fritar alimentos e até para fazer sabão. Mas o mais incrível eu vou te contar agora: o pecíolo da palmeira (parte da folha que se conecta com o tronco), fornece um material muito leve e macio conhecido como o "isopor" da Amazônia. E é com esta fibra que as comunidades ribeirinhas fazem a sua arte colorida na forma de brinquedos!"
Pecíolo, isopor, arte, brinquedo? Nossa!!! Eu nunca poderia imaginar uma coisa dessas! Fiquei chocada e muito curiosa para ouvir o que mamãe me diria a seguir. Lembro que ela contou que a arte de miriti é muito antiga, sendo transmitida de geração em geração na cidade de Abaetetuba e que, inclusive, isto a fez ser reconhecida como a capital mundial do brinquedo de Miriti. E não é só isso, ela também falou que a arte em miriti já é vista como patrimônio histórico cultural imaterial da cidade, ou seja, é algo realmente muito, muito importante para aquela região e para as pessoas que vivem lá.
Mamãe ainda me mostrou um vídeo que ela gravou durante a sua viagem para Abaetetuba. A gravação mostra uma família de artesãos colhendo as fibras da palmeira e depois as entalhando (modelando) e pintando e, assim, as transformando em barquinhos de miriti.
Muitos brinquedos são feitos, e a inspiração vem da fauna e da flora da região, além de seus mitos, costumes e festas culturais. E é assim que nascem cobras, jacarés, pássaros, bonecos, barcos e até personagens que fazem parte do espetáculo do Círio de Nossa Senhora de Nazaré.
Círio do que? No início eu não entendi muito bem. Mas quando a mamãe me mostrou as fotos, tudo ficou mais claro. Ela disse que na verdade ninguém sabe a origem da arte em miriti, mas acredita-se que ela tem relação com uma celebração cristã que os Jesuítas trouxeram para o estado do Pará há muito tempo atrás, no século XVII. Este evento é conhecido como Círio de Nossa Senhora de Nazaré, e é a maior manifestação católica do planeta, atraindo milhões de pessoas às ruas de Belém.
Acredita-se que barcos de miriti já eram usados antigamente para se colocar oferendas para a Nossa Senhora de Nazaré, os quais eram lançados nos rios pelas pessoas que participavam da celebração. Até hoje esta tradição continua e é muito comum encontrar vendedores ambulantes de brinquedos de miriti, especialmente barcos, nas ruas de Belém durante esta época.
Para mim, saber de tudo isso foi tão impressionante que demorei a conseguir dormir naquela noite. Fiquei pensando: como a natureza pode ser tão maravilhosa? E as pessoas então... como elas conseguiram enxergar tudo isso em uma planta? E aquela festa que reúne tanta gente em Belém!? Puxa!! Como eu aprendi ouvindo o que mamãe observou e registrou em sua viagem para o Pará.
Lembrando de toda esta história, novamente senti uma vontade enorme de ver tudo isso de pertinho... uma vontade do tamanho de uma palmeira de miriti! A mamãe me prometeu que vamos pra lá juntas assim que possível. E enquanto espero este dia chegar, vou me divertindo com os brinquedos que ela trouxe de sua viagem e que eu adoro! Então, bora lá colocar meus barquinhos para flutuar na água, e pendurar os passarinhos nos galhos da árvore do meu quintal!
Até a próxima aventura amiguinho (a)!
Um abraço carinhoso,
Aninha.